Ilha dos Cachorros (2018)
- Pyetro Belo
- 5 de jun. de 2021
- 2 min de leitura

Animação stop-motion. Dirigido, produzido e escrito por Wes Anderson (Moonrise Kingdom e O Grande Hotel Budapeste). Estrelado por Bryan Cranston, Edward Norton, Bob Balaban, Jeff Goldblum, Bill Murray, Liev Schreiber e Greta Gerwig.
O filme nos mostra a busca de um garotinho por seu cachorro. Essa é o resumo mais resumido desse filme. Pois Ilha dos Cachorros é um baita filme complexo, cheio de inúmeras camadas. Camadas essas com temáticas cujo o filme discute, como fascismo, racismo e xenofobia ou paralelos ao nazismo. Várias temáticas discutidas, temáticas essas que expõe as várias camadas desse longa.
É interessante notar uma maturidade de Wes Anderson nesse longa. Aqui temos uma das mais bem contadas narrativas do cineasta. O filme se passa em uma futurista cidade japonesa e Anderson se mostra um grande aficionado pela cultura japonesa, ao inserir elementos culturais, como o haiku, o sumô, as artes, os cenários e o sushi, por exemplo. Ainda assim, é perceptível algumas inspirações em alguns filmes japoneses, como Os Setes Samurais, de Akira Kurosawa. E também filmes americanos, como Cidadão Kane, de Orson Welles.
Outro aspecto interessante da linguagem do longa é os personagens japoneses falarem japonês e os cachorros falarem em inglês. Explico: os cachorros falam em inglês, mas os personagens japoneses não, eles falam japonês. E aí entra o diferencial: em vez de usar legendas, ele não explica o que os personagens falam, só que de alguma forma nós entendemos o que está sendo dito. Essa bi-linguagem é presente também, por exemplo, nos letreiros que aparecem em inglês e japonês.
A linguagem é o grande mérito da direção, que formidávelmente consegue expressar o que foi dito sem, por exemplo, nem sabermos o que realmente foi dito. A direção de arte impressiona ao trazer um visual mais realista, mais cinza, um contraste a filmografia colorida de Anderson. A animação é simplesmente impecável, com cenários riquíssimos em detalhes e bonecos surpreendentemente expressivos e bem movimentados.
O roteiro balança uma narrativa fuga-busca com temáticas adultas e maduras, conseguindo trazer uma excelente escrita que nos faz rir com o humor seco e inteligente e que nos cativa com seus personagens (cada cachorro tem seu diferencial, o que torna eles identificáveis. Todos os cachorros são legais, destacando o excelente arco de Chief, o cão protagonista. Os humanos não são tào desenvolvidos assim, já que os cachorros acabam sendo mais humanos do que os próprios humanos. Atari, o garotinho conseguiu me cativar, mesmo não entendendo exatamente o que ele falava. Kobayashi, o antagonista consegue ser a apoteose do político corrupto vilanesco. Tracy, a "militante americana" conseguiu me cativar, mesmo envolvida na polêmica do "white savior/salvador branco"). Um único incômodo que tive em relação ao roteiro foi no finalzinho, com uma virada abrupta e um pouquinho forçada, mas nada que atrapalhe, é só um incômodozinho.
A edição é inteligente e ritma o longa criativamente. E por último, a trilha sonora do Alexandre Desplat é impecável, emulando músicas feudais com tambores e corais, que além de complementar bem, dita o que se deve sentir. Outra obra-prima de Desplat.
Ilha dos Cachorros é uma crítica cheia de camadas disfarçado de um filme de cachorros. Um longa poderoso que, com uma excepcional direção e uma deliciosa trilha sonora, consegue nos cativar e nos encantar com esses cachorros.
👏👏👏 muito bom
Espero que tenham gostado